30 de jun. de 2011

A hora e a vez da televisão (ou como eu aprendi a parar de me preocupar e a simpatizar com uma mídia)

“Não curto TV, não quero fazer”, é o que digo, em looping, a mim mesmo durante a semana. E não é a coisa ideal para se repetir quando, logo ali na curva da esquina que se aproxima mais e mais, se tem um programa inteiro de televisão para se fazer. Ossos do ofício, da faculdade.

Com a única experiência prévia no jornalismo televisivo sendo um capenga boletim informativo apresentado de forma rápida demais, atrapalhada demais, é perfeitamente plausível que haja esse desgosto, essa repulsão às câmeras e luzes e microfones e risco de por a cara a tapa, ao vivo, sem as artimanhas sonoras do rádio, ou os atalhos da linguagem do texto impresso.

E com esses contratempos então. Mudança de entrevistado e de tema na última hora, a corrida contra o tempo, se pudermos apelar a esse clichê.

Tudo pra dar errado.

Aí começa. Não sem antes termos de esperar todos os outros grupos – somos o último. Quando chega nossa vez, somos encaminhados à porta do estúdio, onde temos de esperar os últimos detalhes, o último apertar dos parafusos. Não há nervosismo, porém, só aquela ansiedade pulsante. Um “quero me livrar disso logo” piscando em néon sob as pálpebras cada vez que se pisca.

Com o grupo dividido entre os dois blocos do programa, há cinco pessoas que participam do debate e outras quatro que têm mais dez minutos de espera e tortura mental – e estou entre eles. Mas isso é um hipérbole na verdade: quando mas próximo se chega, mais tranquilo que se fica, e ao final da entrevista, na beira da minha entrada no ar, eu estou absolutamente calmo.

A postos em meu lugar, cercado pelos companheiros de debate, aguardo o sinal do professor/câmera/produtor. Tá lá. Após um breve apresentação da nossa âncora, eu começo, comentando uma resposta de nosso entrevistado (grande Thales Barreto, jornalista de belas iniciativas). Vamos, aos poucos, montando um painel, um mosaico sobre nosso tema, tendo opiniões não exatamente conflitantes, não exatamente divergentes, mas diferentes, que ajudam a por mais ângulos na questão.

A coisa flui, é uma conversa, é quase informal. Vou falando, e compondo as frases com uma cadência que não imaginava possuir diante da ameaçadora esmagadora amedrontadora câmera, que agora já soa até dócil.

E é mesmo uma surpresa, uma dessas imensas, das mais inesperadas, quando a colega de grupo responsável pela cronometragem do tempo avisa que nossos dez minutos se foram e precisamos encerrar. Peraí, como assim? Já? Cadê o tempo que tava aqui?

Corro e encaixo uma frase que acredito ser interessante para o fechamento da discussão. Nossa âncora encerra. A câmera é desligada. Despimos nossa postura formal de proto-Bonners. Foi. Passou.

Mas nem tudo volta ao normal. Há algo que falta: aquele antipatia pela TV que antes havia aqui foi se refugiar em outro lugar. É, ela agora até parece simpática. O video pode ter matado a estrela do rádio (http://en.wikipedia.org/wiki/Video_Killed_the_Radio_Star), mas hein senhora televisão, eu e você, acho que esse é o começo de uma grande amizade, como diria Bogart ao final de Casablanca, desaparecendo na neblina. E eu, e nós, desaparecendo em um fade-out, para refletir a experiência.

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